Arte, cuidado e prevenção se encontram na atenção primária com o projeto Mamogravuras, do médico de família e comunidade da AgSUS, Teógenes Oliveira
Texto: Paula Bittar | Vídeo do Instagram: Anderson Rodrigues

Inspirado pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher e pela Linha de Cuidado do Câncer de Mama no SUS, o projeto Mamogravuras une arte, escuta sensível e orientação clínica para empoderar mulheres e ampliar a prevenção. A iniciativa, conduzida pelo médico de família e comunidade da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS), Teógenes Oliveira, em Cajazeiras (PB), mudou a relação da comunidade com a doença e com a Unidade Básica de Saúde (UBS).
O Mamogravuras nasceu do encontro entre educação popular em saúde e práticas artísticas. Em 2023, a equipe da UBS realizou visitas domiciliares, registrou relatos das mulheres sobre o diagnóstico, tratamento e acompanhamento e propôs a pintura das mamas para carimbar, em papel, a singularidade de cada corpo. O resultado virou um mural exposto durante o Outubro Rosa, acompanhado por um vídeo com trechos das entrevistas e informações sobre prevenção.
“É uma jornada que precisa de carinho, afeto e compreensão. Acolhemos as queixas, conversamos sobre expectativas e explicamos as hipóteses diagnósticas, oferecendo orientação e apoio ao longo de todo o caminho”, resume Teógenes.
Além do simbolismo, a arte funciona como recurso pedagógico: torna a mensagem mais próxima, ajuda a desfazer medos e estimula o autocuidado, especialmente a partir dos 40 anos — etapa em que o Ministério da Saúde recomenda atenção às mudanças no corpo e busca ativa por avaliação clínica em caso de sinais ou sintomas.
Cuidado primário
Na UBS, a equipe avalia queixas e lesões suspeitas nas consultas, levanta hipóteses diagnósticas e solicita exames complementares quando necessário, além de manter o contato com quem está em tratamento ou já concluiu terapia oncológica, alinhando cuidados com os centros de referência.
Segundo Teógenes, a Paraíba conta ainda com o programa contra o câncer, que oferece acompanhamento via telemedicina, aproximando a UBS do especialista e facilitando o acesso sobretudo para quem vive na zona rural.
“O que a gente pode observar, nos meses seguintes, foi uma procura espontânea dessas mulheres para a realização da mamografia, como também maridos, companheiros, filhos, que se sensibilizaram e participaram ainda mais das ações de saúde produzidas aqui na unidade”, conta.
A equipe planeja manter o Mamogravuras como prática contínua, para além do Outubro Rosa: rodas de conversa periódicas, atualização do mural com novas histórias e ampliação das parcerias com serviços de referência.

Parte das mulheres que não frequentavam a unidade passou a procurar o serviço de forma mais assídua, fortalecendo o vínculo e o cuidado longitudinal. “Trazer a realidade da própria comunidade para o centro da conversa muda tudo. Quando a mulher se vê representada — na história, na gravura, na roda de conversa — ela se sente parte e se mobiliza”, afirma Teógenes.
