Lideranças Yanomami e Pankararu, Opas, Ministério da Saúde e Adaps/AgSUS debatem aprimoramento do modelo assistencial do Subsistema de Saúde Indígena

6/10/2023

No encerramento do Curso de Formação Intercultural com Foco na Saúde Indígena, cujo tema foi “Força de Trabalho da Saúde Indígena e a Organização dos Processo de Trabalho das Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena”, a equipe da Adaps/AgSUS foi sensibilizada pelas falas das lideranças indígenas dos povos Yanomami e Pankararu.

O coordenador setorial de Gestão de Riscos e Integridade da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde, Lucas Dantas, explicou as especificidades que os profissionais da Saúde Indígena enfrentam em relação aos profissionais em contexto não indígena, e como se dão os vínculos e processos de trabalho dos trabalhadores da saúde indígena.

Carmem Pankararu e Júnior Yanomami apresentaram a realidade de suas comunidades historicamente negligenciadas pelo estado e os desafios enfrentados. Carmem, diretora de Atenção à Sesai do Ministério da Saúde, chamou a atenção para a necessidade de encontrar um modelo mais adequado de assistência à saúde indígena, capaz de fixar os médicos nos territórios, de forma a de fato compreendam a complexidade da cultura, para aderirem, conhecerem e dialogarem entre os diversos níveis de atenção). Destacou a importância do reconhecimento dos agentes indígenas de Saúde e saneamento nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) como categoria profissional. E ressaltou como as questões climáticas dificultam ainda mais o acesso aos territórios indígenas, tanto para o profissional de saúde que vai até lá quanto para fazer deslocamentos de pacientes para fora.

Júnior, que preside o Conselho Distrital de Saúde Indígena, alertou para o retorno de garimpeiros depois de 6 meses de operação do governo federal para afastá-los. “Eles contaminam a população, especialmente com mercúrio. As águas que consumimos estão contaminadas. Mais de 2 mil crianças morreram nos últimos 4 anos. O atual governo está trabalhando para salvar o que restou, mas está difícil. Muitos estão morrendo também de malária, inclusive os profissionais de saúde”, relatou.

O consultor nacional de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Panamericana da Saúde (Opas), Rafael Dall Alba, disse que a Opas está construindo com os indígenas uma estratégia de saúde indígena revolucionária, que vai estabelecer ferramentas de interconsulta entre a racionalidade de saúde indígena e a não indígena. Ressaltou a necessidade de os estudantes de medicina terem acesso à lógica da saúde indígena desde a universidade.

A diretora-presidenta interina da Adaps, Vera Araújo, encerrou o encontro lembrando o aniversário de 35 anos da Constituição brasileira, comemorado naquela data. “Quis os nossos orixás, os encantados, que o encerramento da nossa formação se desse justo quando se comemora o aniversário de uma constituição cidadã que efetivamente não deu conta de levar cidadania a todo o povo brasileiro. Mas estar neste processo, nos revigora. É um alento que nos fortalece. A gente tem muito por fazer, para fazer e não tenho dúvida de que, no campo da saúde indígena, este entrelaçamento que já se mostra, que envolve um organismo internacional do porte e do reconhecimento da Opas, o Ministério da Saúde e a Adaps/AgSUS, temos uma equipe valorosa com pessoas que já integram saberes plurais.”

O diretor-técnico interino da Adaps, André Longo, ressaltou a importância do encontro e finalizou sua fala com uma frase de Dom Helder Câmara: “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes”.