Em parceria com a AgSUS e a FMUSP, Programa Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde, realiza mutirão nos municípios de Salvaterra e Soure, no Pará, contemplando 11 especialidades, além de ações em nutrição e saúde bucal
Texto e fotos: Adriã Galvão Baré

Na Ilha do Marajó, no Pará, onde o rio é a principal estrada e as distâncias até os grandes centros urbanos podem significar horas de viagem, o acesso à saúde especializada ainda é um desafio para muitas comunidades. É nesse cenário que o Programa Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde, realiza um mutirão nos municípios de Salvaterra e Soure, em parceria com o programa Bandeira Científica, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP/USP), e apoio da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS), aproximando o cuidado em saúde de quem vive no território.
Os atendimentos iniciaram no domingo (14) e seguem até 22 de dezembro, de forma simultânea nos dois municípios, em uma unidade básica de saúde e em uma escola, integrando assistência, formação e extensão universitária. A ação mobiliza cerca de 220 profissionais, entre médicos, professores, residentes e estudantes. Também participam desta edição outras instituições de ensino, como a Universidade Estadual do Pará (UEPA), a Universidade Federal do Amapá (Unifap) e a Universidade Federal de Catalão (UFCAT).
A expectativa é realizar mais de 3,5 mil atendimentos em saúde, incluindo cerca de 2 mil atendimentos médicos e 1,5 mil atendimentos odontológicos, além de 200 ultrassonografias e a doação de 200 óculos, ampliando o acesso a diagnósticos, tratamentos e orientações sem a necessidade de deslocamento para fora da Ilha.
O mutirão contempla especialidades como clínica médica, cardiologia, ginecologia, pediatria, neurologia, psiquiatria, dermatologia, ortopedia, oftalmologia, infectologia e fisiatria, além de ações em nutrição e saúde bucal. Para muitas famílias, a iniciativa representa a oportunidade de realizar consultas, exames e orientações em um único lugar, sem a necessidade de sair da Ilha.
Saúde que chega junto com formação
Além de ampliar o acesso aos serviços, o mutirão também fortalece a formação de profissionais de saúde sensíveis às realidades dos territórios. A convivência com as comunidades e o contato direto com o cotidiano do Marajó ampliam o olhar de estudantes e profissionais sobre o cuidado em saúde fora dos grandes centros urbanos.
Nesse contexto, a AgSUS apoia tanto a oferta dos atendimentos quanto os processos formativos, contribuindo para a preparação de profissionais comprometidos com o SUS e com o respeito aos territórios, como destaca Edson Oliveira, gestor executivo da Unidade de Saúde Indígena da AgSUS.
“É muito importante trazer estudantes para o chão da aldeia, para o território, para a Ilha do Marajó e para outros lugares que mostram o Brasil como ele realmente é. Essas vivências plantam a semente de uma formação mais consciente, preparando profissionais que entendam as realidades do país e atuem com respeito aos territórios”, afirma Edson.
Cuidado que faz diferença no território
Para quem vive no Marajó, ter acesso a diferentes especialidades no próprio território significa mais tranquilidade e cuidado próximo. Ivana Silva, moradora da região, procurou atendimento oftalmológico após um acidente doméstico e destacou a agilidade do serviço.
“Uma prateleira caiu no meu olho e fiquei com um corte muito feio. Fui atendida, fiquei bem, mas continuei preocupada. Vim aqui no oftalmo, fui atendida rápido e saí mais aliviada, sem precisar ir tão longe para cuidar da minha saúde”.
A presença das equipes também beneficia famílias inteiras. Andréia Trindade, moradora de Salvaterra, levou a filha Alana Trindade, que possui paralisia infantil, para atendimento com fisiatra e ressaltou o acolhimento recebido durante o mutirão.
“É muito difícil conseguir um fisiatra e um neurologista sem precisar sair da Ilha. Agora consegui, em um só lugar, vários atendimentos para mim e para minha filha”.
Formação médica que nasce do encontro com o território
A participação de estudantes de medicina é um dos diferenciais da ação. A vivência no Marajó amplia a formação acadêmica e fortalece o compromisso social com o SUS, aproximando futuros profissionais das realidades que desafiam o sistema de saúde brasileiro. É justamente nessa linha que se desenvolve a Bandeira Científica. O programa reforça o papel da universidade pública na redução das desigualdades em saúde e na formação de profissionais comprometidos com o cuidado nos territórios.
“Todos os anos, cerca de 30 mil médicos se formam em todo o Brasil. É muito importante que esses profissionais, desde o começo da graduação, tenham contato com populações e realidades diversas para que se possa fortalecer a atuação médica para além dos centros urbanos. Que tenhamos profissionais com desejo de atuar nos mais diversos territórios do país, com empatia e respeito” explica Pedro Docema, estudante da FMUSP e vice-presidente da Bandeira Científica.Além dos atendimentos clínicos e ações itinerantes em comunidades quilombolas, o mutirão inclui rodas de escuta, oficinas culturais, ações educativas em saúde e atividades de nutrição, fortalecendo vínculos com a comunidade e ampliando o entendimento da saúde como cuidado integral. As ações culturais são realizadas em parceria com o Ministério da Cultura.
