Mutirão leva atendimento especializado e intercultural à CASAI Yanomami e Ye’kwana

Programa Agora Tem Especialistas, do Ministério da Saúde, reforça a resposta à emergência em saúde no território e fortalece a rede de atenção indígena

Texto: Adriã Galvão | Imagens: Anderson Rodrigues

Boa Vista (RR) — De 7 a 9 de novembro, a Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS) realiza, em parceria com o Ministério da Saúde, um mutirão de atenção especializada na Casa de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (CASAI-YY), em Boa Vista.

A ação integra o Programa Agora Tem Especialistas, iniciativa do Ministério da Saúde voltada ao fortalecimento da rede de atenção especializada e à promoção da equidade no acesso aos serviços de saúde. Durante os três dias, pacientes alojados na CASAI recebem atendimentos de uma equipe multiprofissional de especialistas.

Em Roraima, o mutirão tem como objetivo oferecer um cuidado resolutivo, ágil e humanizado aos pacientes indígenas, garantindo que cada pessoa receba a atenção necessária para o seu tratamento. A ação contribui diretamente para reduzir o tempo de espera de pacientes e acompanhantes na CASAI, possibilitando que retornem mais rapidamente e com segurança às suas comunidades.

“Ao promover um cuidado resolutivo, humanizado e intercultural, conseguimos reduzir o tempo de permanência dos pacientes na CASAI-YY, enfrentar desigualdades históricas e oferecer respostas efetivas às demandas de saúde dos povos da Terra Indígena Yanomami”, destacou Edson Oliveira, gestor da Unidade de Saúde Indígena da AgSUS.

No primeiro dia de atendimentos, Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami e uma das maiores lideranças indígenas do país, visitou a CASAI-YY ao lado de Putira Sacuena, diretora de Atenção Primária à Saúde Indígena da SESAI, e de Maurício Ye’kwana, coordenador do DSEI Yanomami e Ye’kwana.

“Quando os profissionais vêm até nós, o cuidado chega mais perto da floresta. Isso é importante para o nosso povo da Terra Yanomami porque para nós é muito ruim estar longe do território”, ressaltou Davi Kopenawa durante a visita aos consultórios da CASAI.

Cuidado especializado com abordagem intercultural

A equipe médica responsável pelos atendimentos é composta por especialistas em proctologia, cirurgia geral, endocrinologia pediátrica, pneumologia, clínica médica, infectologia, ginecologia e medicina de família e comunidade.

Os atendimentos contam também com profissionais indígenas da saúde — médicos, enfermeiros e intérpretes Yanomami, Ye’kwana, Sanomá e Xirixana — que atuam como mediadores culturais e linguísticos, assegurando uma assistência respeitosa, dialogada e sensível aos modos de vida desses povos.

“A saúde indígena só se fortalece quando reconhece os saberes e modos de vida dos povos. A presença dos intérpretes e dos profissionais indígenas neste mutirão é o que garante um atendimento efetivo e intercultural”, destacou Putira Sacuena.

“O atendimento aqui está sendo muito interessante, porque a gente tem um agente de saúde ou um enfermeiro que é da região. Então conhece os pacientes, já sabe da história deles. Ter esse tempo para juntar tudo do prontuário, ter o intérprete, foi muito importante para dar um atendimento completo aos pacientes”, destacou o médico cirurgião-geral Pedro Morais.

A CASAI Yanomami e Ye’kwana é referência no acolhimento de indígenas que necessitam de atenção complementar fora do território. Atualmente, mais de 500 pessoas, entre pacientes e acompanhantes, permanecem no local enquanto aguardam atendimento na rede do SUS. Segundo o levantamento mais recente, estão alojados 269 pacientes e 221 acompanhantes, além de outros 34 acompanhantes externos que também recebem apoio durante o período de espera.

Os povos da Terra Indígena Yanomami de recente contato, o que reforça a importância de um atendimento sensível às diferenças culturais e linguísticas, e de uma abordagem que respeite seus modos próprios de viver e cuidar da saúde.

Território Yanomami

O território Yanomami abrange mais de 9,6 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas, com cerca de 30 mil habitantes distribuídos em mais de 370 comunidades. O difícil acesso, as longas distâncias e as barreiras de comunicação tornam o atendimento em saúde um desafio constante, exigindo ações planejadas e integradas entre as diferentes esferas do SUS..

É nesse contexto que o Agora Tem Especialistas atua para ampliar o acesso e fortalecer a capacidade resolutiva da rede em locais de difícil acesso, oferecendo atendimento especializado sem que o paciente precise se deslocar para os centros urbanos.

“Eu fico feliz que nossos parentes de outros estados, de outras etnias, estão se incorporando nesse mundo da saúde indígena para fazer esse atendimento especializado. E agora, com esse programa, vamos melhorar ainda mais a saúde dos povos da Terra Yanomami, pois vamos atuar também dentro do território, em algumas comunidades, para poder levar essas pessoas para fazer esse atendimento especializado”, completou Maurício Ye’kwana.