Os novos trabalhadores contratados pela Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS (AgSUS) para atuar no território Yanomami, em Roraima, têm diferentes ocupações e níveis de escolaridade, entre as quais médicos de diversas especialidades, sanitaristas, socorristas, supervisores de saúde ambiental, auxiliares de logística, assistentes administrativos, cozinheiros, carpinteiros, bombeiros hidráulicos, operadores de motosserra e pedreiros, entre outros. Grande parte deles é parda (40%) e indígena (33%). Em comum, o desejo de contribuir para o fortalecimento da assistência à saúde da população indígena.
Entre os novos profissionais que são indígenas, há gente de diversas etnias, como Wapichana, Patamona, Macuxi e Yanomami, só para citar alguns exemplos. Um deles é o Yanomami Leomar Ximenes, de 23 anos, contratado para ser intérprete. Ele mora há alguns anos entre o seu território e Boa Vista (RR) e, desde o início de 2024, estuda Enfermagem na capital de Roraima. Seus pais vivem no território e ainda não sabem que o filho vai trabalhar junto aos seus. “Não pude contar, pois eles não têm telefone nem acesso à internet”, explica. Com o salário, pretende ajudar sua mãe financeiramente. “Estou curioso sobre como vai ser, quero fazer bonito na minha primeira experiência profissional”, diz.
Natural de Boa Vista, a sanitarista Diana Cadete é descendente dos Wapichana. “Perdi o contato com a língua e a cultura do meu povo. Sinto este trabalho como uma oportunidade de resgatar minha origem. Fico feliz de poder contribuir. A AgSUS está me abrindo um leque de oportunidades que vai agregar conhecimentos para mim, como a importância do respeito a uma cultura diferente da nossa.” Diana deixa na cidade marido e duas filhas adultas. “Estou deixando a minha família para acolher várias outras”, afirma.
São da etnia Macuxi as auxiliares de logística Luciane Pereira e Arcelina Costa, que também tem ascendência Patamona. Ambas elogiaram a agilidade do processo seletivo da AgSUS. “Estou feliz de conhecer povos indígenas além dos meus”, declara Arcelina.
Também é Macuxi o socorrista Jesus Nilson. Seus colegas técnicos de enfermagem Suyenne Silva e Antonio Neto são do povo Wapixana. Os três já têm experiência no território Yanomami. “Compreendo meu retorno como uma missão. Cada um aqui tem um cargo, mas a nossa missão é a mesma: a saúde”, afirma Suyenne.
Médicos especialistas
Entre os novos contratados estão 15 médicos especialistas, entre eles a ginecologista e obstetra Ana Paula Pina, o intensivista Alysson Figueiredo e a médica de Família e Comunidade Carla Rodrigues. Os três já atuavam no território Yanomami há cerca de 1 ano.
A paulista Ana Paula Pina atuou no SUS por 20 anos. Teve consultório particular e era docente. “Troquei e troco tudo para estar no território indígena”, afirma. “Lá me sinto realizada não só na função de clinicar, mas na função social do médico. Você vê que seu conhecimento faz diferença para a vida da pessoa e da comunidade. A sensação de ser útil e poder mudar caminhos de vida não tem preço. É um povo todo em emergência. No território, a gente se sente não só médico, mas ser humano.”
Ana Paula destaca que a convivência com os Yanomami é enriquecedora pela identificação que se revela entre diferentes. “Percebemos que somos pessoas do mesmo jeito – sentimos medo, carinho, queremos ser amados. Além de ser um privilégio trocar com os indígenas os saberes milenares que vêm da floresta”, observa. A expectativa da médica é alta em relação à AgSUS. “A complementação dos recursos humanos com médicos especialistas e a oferta de insumos vão otimizar não só a Atenção Primária, mas a alta complexidade”, avalia.
A também paulista Carla Rodrigues, desde que se formou, tem atuado por meio do SUS em comunidades urbanas com pessoas em situação de rua. Passou pelo Programa Mais Médicos e destaca a importância de o Plano Emergencial Yanomami trazer uma proposta estruturada e integrada para o território. “Meu desejo é levar a melhor Medicina para quem tem dificuldade de acesso. Gosto de trabalhar com a população vulnerável e sou mais feliz quando estou com os Yanomami no território. Eles me fizeram ser uma pessoa melhor, repensar o modo que vejo a vida, como preciso de pouco para ser feliz”, conta.
O sergipano Alysson Figueiredo participou da montagem do centro de referência de Surucucu em 2023. “Quero dar continuidade a este trabalho. O diferencial agora é que, além do provimento profissional, serão ofertados equipamentos e insumos in loco. Poderemos fazer mais”, ressalta.